quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Adicta.


“Não sei ter paz.” - Lispector.

Ah não, eu não sei ter. Mas quem é que sabe? Quem é que sabe ter aquela paz profunda, que invade seu ser, que lhe deixa leve e flexível como os galhos da árvore a balançar quando o vento por ela passa? Procuro satisfação para me levar à insatisfação, logo, procuro insatisfação para poder satisfazer-me... Quase como um paradoxo ou um vício mesmo. Pois eu não sei viver satisfeita e menos ainda sei me conduzir na insatisfação. Não consigo ficar em paz, não sei ver a brisa passar por mim sem que eu saia correndo em busca de um furacão. Não sei respirar lenta e profundamente, preciso sentir que irei sufocar a qualquer momento, sentir que de tanto bater meu coração vai se esvair.

Ah, eu preciso... Preciso de guerra interna, coração palpitante, nó no estômago. Como desejo expor meu corpo ao limite do insuportável, ao limite do desagradável... Só para atingir um prazer supremo. A contradição encontrou seu lar dentro do meu ser; e como é bem-vinda!

Ah, como é doce... Como é doce sentir meu corpo pedindo arrego, sentir meu coração no pescoço e um vazio no lugar das vísceras. Depois do doce vem-me um gosto que se funde entre o azedo e amargo... Nada além do que o sabor da adrenalina em excesso ou simplesmente de sua bílis. É, já me acostumei com esse gosto azedo.

Há uma força que me impulsiona pro penhasco, uma vertigem... Mas eu não sou dessas pessoas que pulam para alçar vôo não, pulo para poder ver meu corpo em pedaços nos rochedos... E nesse momento, vejo meu corpo e meu espírito separados, como se não fossem mais integrantes de uma única massa, de um único ser. E depois disso, eu me reconstruo. Aquela água salgada batendo nas pedras limpa-me o sangue... Aos poucos, os dedos se juntam às mãos, as mãos aos braços, os braços ao tronco... E por fim, a alma volta ao corpo, pronta para se arrebentar de novo, de novo e de novo.

Autodestruição vicia.

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Para lembrar que você também tem vícios... Dor, sexo, álcool, cocaína, comida, televisão. Em que eles verdadeiramente se diferem?

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Regozijo.


Têm dias que são assim, tem dias que me transformam em furacão, em vulcão, na personificação do desastre natural. Desastre da minha natureza. Sim, nesses dias me sinto como o próprio furacão, tenho vontade de deixar estrago por onde eu passar, tenho um desejo que arde e que precisa ser sentido por alguém. Minha maior vontade nesses momentos é andar com todo esse meu desejo, com toda essa minha necessidade de estrago por aí. Não, eu não deixaria pedra sob pedra. Acabaria com tudo a minha volta, arquitetaria coisas novas, paisagens novas. Queimaria tudo, começando pelo meu desejo.

Vejo que a cada passo que eu dou algo irá destruir-se, esvair-se em chamas até tornar-se cinzas e eu me regojizo com isso. Até que tudo caia, que tudo se desfaça, eu não irei parar. Vou queimar tudo, alagar cada centímetro quadrado, levar com minha ventania todas as telhas que cobrem teu falso conforto, tua falsa sensação de proteção.

E que venha a baixo! Que tudo seja destruído, pois essa é minha vontade hoje. Se por vontade de aniquilação essa destruição deva começar por mim mesma, que seja… Eu não irei resistir à desgraça, não irei segurar pilastras, seguirei apenas meus instintos mais primitivos e destrutivos. Serei como animal selvagem em seu instinto mais puro.

Posso ver o brilho do fogo, sentir esse calor que consome minhas vísceras e tudo que eu vejo é destruição. Há uma luz laranja em tudo, há a chuva caindo para lavar toda essa sujeira, para podermos ter mais um início, mais uma purificação.

Vontade que faz minha carne pulsar, implorar por esse descontrole, por essa ruína toda. Só consigo seguir meus instintos, meus instintos urrando por perigo, por tudo aquilo que causa medo e repulsa, por tudo aquilo que é marginalizado, escandalizado, desmoralizado. É por tudo isso que minha carne pulsa… Por desconstrução, aberração. Clamo a tudo que há de devaço e libertino, andem ao meu redor esta noite.